Imagine ser teletransportado da idade das cavernas para o mundo atual, um ambiente completamente diferente e ao mesmo tempo fascinante. Cercado por objetos e dispositivos misteriosos, você sente o contraste entre o instinto primitivo e a sofisticação moderna, mas reconhece que aquilo que é mais importante - a essência humana - permanece. Essa é a inspiração da Casa Perene, ambiente do Studio Guilherme Garcia em parceria com a Reveev na CASACOR/SC - Florianópolis, que vai de 29 de setembro a 24 de novembro.
O viajante do tempo percebe a necessidade de abrigo, calor e segurança ultrapassa as eras, e a arquitetura do ambiente reflete essa busca, propondo um equilíbrio entre o antigo e o novo. Com 110m², a Casa Perene explora a arquitetura sensorial e minimalista de maneira ousada. Apesar de estar situado em um apartamento tipo da Dimas Construções, anfitriã da mostra, não é uma casa tradicional e apresenta três suítes que fogem do óbvio.
“Fui convidado pela Reveev para desenvolver o espaço para eles e também expor minha coleção de móveis com meus desenhos em primeira mão. Mergulhei no extremo minimalismo, naquilo que é essencial: ‘o que todo mundo busca em uma casa?’. Se imaginarmos a idade das cavernas, o que esses espaço significavam para os pré-históricos? Foi desafiador criar um ambiente com poucos móveis e formato de galeria. Saímos da caixa, trouxemos linhas orgânicas que vão além de referências do Pinterest, com muita profundidade”, explica Guilherme, que participa da mostra pelo segundo ano consecutivo e com uma proposta bem diferente da do ano passado.
Linhas orgânicas e paleta neutra são os destaques do espaço
Se em Estar Origens as linhas curvas do arquiteto Oscar Niemeyer e as formas fluidas do paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx se encontravam para criar uma sala de estar que homenageava o design nacional, para a Casa Perene o arquiteto mergulhou em referências mais antigas. Os materiais naturais já fazem parte do DNA do escritório e continuam presentes: piso monolítico, couro, camurça, lâmina de madeira, tecidos naturais e tramas. A paleta é pálida e quente, remete às cores da idade das cavernas, com os marrons dos couros que serviam como roupas, a tinta avermelhada do sangue, os tons de beges das rochas - tudo conectado com a vista da vegetação e do mar, emoldurada pelas janelas.
A divisão dos ambientes é orgânica. Mesmo com o layout limitado a partir do apartamento tipo, Guilherme conseguiu transformar o espaço em uma galeria cheia de formas a serem exploradas.
“Já temos muitas paredes quadradas na vida, vamos deixar traços leves e autênticos em nossas arquiteturas. Fazer o tradicional nunca passou pela minha cabeça, e então criei uma caverna atual, contemporânea e perene - afinal, desde a pré-história aspiramos um lar que nos proteja e acolha, e isso nunca mudou”, conta.
O projeto luminotécnico é assinado pelo o lighting designer Waldir Junior, com luz baixa, quente, que revela as texturas da arquitetura e convida o público a não querer ir embora. O ambiente também tem soluções sustentáveis. Foram trabalhadas pedras de descarte da indústria nas bancadas e prateleiras. Já os tijolos brancos do quarto principal foram feitos com resto de pó de uma marmoraria.
Obras de arte também estão presentes. Noemi Carpu, uma espanhola que mora no Rio de Janeiro, assina três obras para o espaço, com traços marcantes, e femininos. Eleutherio Neto, que ano passado brilhou com um quadro de Lápis Lazuli, esse ano apresenta um experimento de oxidação em metal. Há ainda duas obras de Rodrigo Zampol, uma que representa as terras secas e outra com trabalho de metal oxidado.
Crédito das fotos: Denilson Machado
Autor(a): Rosiley Souza
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