Uma em cada 100 pessoas no mundo, ou seja 1% da população mundial, apresenta a doença celíaca. No Brasil, a doença autoimune, que está relacionada ao glúten, proteína presente no trigo, centeio e na cevada, afeta, segundo dados da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra), cerca de 2 milhões de brasileiros. Deste número, 80% não têm o diagnóstico conhecido e 70% só confirmam a doença após os 20 anos de idade.
Para conscientizar e trazer mais informações para a população, durante o quinto mês do ano, é realizada a campanha do Maio Verde. Segundo o médico gastroenterologista Nelson Cathcart Jr., a ação é importante no alerta sobre os sintomas, bem como ajudar na conscientização da população que convive com celíacos.
“Não sabemos exatamente como e quando um indivíduo acaba sendo acometido, já que a mutação para ter essa doença, que é autoimune e tem base genética e ambientais, está presente em até 30% da população em geral, mas apenas 1% da população mundial e brasileira tem doença celíaca”, destaca o médico.
O especialista em doenças do estômago e intestino explica que o diagnóstico da doença celíaca pode ser feito através de alguns exames de sangue e com biópsias. Durante a endoscopia digestiva alta é possível fazer a coleta de materiais do intestino delgado e averiguar se há inflamação e atrofia dessas células, alterações estas geradas pelo trigo e outros alimentos com glúten.
“Diferente dos pacientes que tem algumas intolerâncias alimentares, até o momento não existe um remédio para a doença celíaca, no entanto existem estudos em andamento para que no futuro haja mais essa possibilidade de controle da doença”, ressalta.
Apesar de não ter cura, a doença pode ser controlada com uma dieta baseada em alimentos sem glúten.
Sinais e sintomas além do intestino
Diarreia, dor de barriga, barriga estufada, perda de peso são sintomas clássicos e até mesmo o intestino preso pode acontecer. Mas, além do intestino, outras partes do corpo podem ser acometidas, como músculos e articulações, com aparecimento de dores, e lesões de pele, com bolhas e crostas. Nas crianças o atraso de crescimento é um dos sinais de alerta.
O médico destaca ainda que dores de cabeça, deficiência de ferro, vitamina B12 e outros nutrientes, osteoporose, osteopenia, infertilidade e alteração no fluxo menstrual de mulheres, também são sintomas que merecem alerta.
“Todas essas condições podem sim estar associadas com a doença celíaca e esses indivíduos merecem investigação. Por isso, é importante conscientizar que esses sintomas não sejam menosprezados quando crônicos, e que a pessoa procure o médico para fazer a investigação o quanto antes”, alerta o médico, uma vez que não bem controlada, a doença pode favorecer o aparecimento de câncer, como o linfoma.
Como é viver sem glúten?
Desde 2003, após a publicação da Lei Federal nº 10.674, todos os alimentos industrializados devem apresentar no rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições ‘contém glúten’ ou ‘não contém glúten’.
O médico, que foi diagnosticado como celíaco aos 36 anos de idade, comenta que viver sem glúten não é uma tarefa tão fácil, mas ela já foi muito mais difícil. “A Lei que obriga que as empresas apresentem nos rótulos de alimentos a composição com ou isento de glúten, foi um grande avanço para o bom controle da doença no nosso país”, ressalta.
Nelson Cathcart Jr., comenta ainda que viver sem glúten é muitas vezes um desafio social. “Às vezes você tem que ir para algum evento e fazer a refeição antes mesmo de ir para algum restaurante, pois não se sabe se lá terá alguma comida preparada adequadamente. Pois, se no mesmo ambiente onde são manuseados alimentos com trigo por exemplo, sejam pratos, panelas e talheres, isso pode gerar uma contaminação e ela é, sim, nociva, causando danos ao intestino de quem tem doença celíaca”, compartilha.
Autor(a): Rosiley Souza
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