Documentos, pinturas, desenhos produzidos nas décadas de 1940 a 1980 dão margem ao tema do curso on-line “Meyer Filho, Terra em Fuga”, que será realizado de 01 a 05 de novembro, sempre das 19h às 21h. Promovido pelo Instituto Meyer Filho com o Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), a ação faz parte do projeto “Arquivos Implacáveis Meyer Filho” em comemoração aos 100 anos de nascimento do artista catarinense nascido em Itajaí (1919) e que viveu em Florianópolis até 1991,ano de seu falecimento. As inscrições gratuitas abrem nos dias 23 e 24 de outubro e podem ser feitas no site : http://www.meyerfilho.org.br/
Conduzido pela pesquisadora Bianca Tomaselli, a proposta é, a partir do acervo do artista, tensionar a noção da terra que foge à ideia de territórios e limites. “As imagens do galo e de Marte de Meyer Filho nos permitem ler a terra como essa lama primordial, esse lugar do não humano, em que uma outra leitura de nós mesmos é possível. Uma apreensão da experiência que não cabe nos pressupostos de progresso ou de qualquer outra antropotecnia. Mais do que um ilustrador do folclore, Meyer Filho resgata o não saber, o resto das paisagens que habita e pelas quais passa, os costumes e gestos mais arcaicos, as conversas de boteco, o erotismo para rearticular um mundo outro, sequestrado ou distante, mas capaz de subverter a violência da história e do presente”, explica Bianca.
Como lugar movediço de investigação, Bianca se debruçou também na fonte de leitura de Meyer - sua biblioteca particular - tentando fazer relações nunca antes pensadas acerca dos temas que ressoavam em sua época. Temas estes que influenciaram a criação de outros artistas brasileiros do período como Antonio Dias, Cildo Meireles e Tunga.
“O curso pretende pensar os desenhos, pinturas, a construção desse cosmos, como a utopia de uma viagem a Marte ao ser elaborada pelo artista em conjunção com o que estava lendo, com o que estava lhe interessando, reencenando uma dimensão não experimentada ainda do comum”, complementa.
Os trabalhos serão colocados em perspectiva para enriquecer o debate e ainda como forma de problematizar as lutas da época no Brasil. Ao mesmo tempo, abrem a possibilidade de armar uma constelação de obras muito diversas que conversam de diferentes modos, porém semelhantes em pensar ou resgatar uma dimensão do comum. Descobrir o encoberto.
“Nós vamos mapear esse sentido heterotópico do cosmos e da experiência antropológica em diferentes artistas, como os que mencionados aqui, entre outros. Vamos pensar essa articulação da matéria e do cosmos como uma possibilidade não polarizada de compreensão da história. Uma via de elaboração e construção do comum que escapa às abordagens desenvolvimentistas do período pós-segunda guerra", acrescenta Bianca.
Autor(a): Rosiley Souza
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